sábado, 14 de setembro de 2019

É seguro se vacinar? Entrevista com a Dra. Daniela Santoro Rosa

Por: André Kenji Honda, Rebeca Hamany, Sara Lucia e Isys SilvaAlunos da oficina Introdução ao Jornalismo Científico - Projeto Imunologia nas Escolas 2019

Nas férias de julho de 2019, o Projeto Imunologia nas Escolas organizou um curso introdutório em Jornalismo Científico, dando a oportunidade a alunos do ensino médio público de entenderem um pouco mais do universo das notícias e sua relação com ciência e sociedade.

Entrevista coletiva dos alunos do Projeto Imunologia nas Escolas com a
biomédica e pesquisadora Daniela Santoro Rosa. Foto: Patricia Santos

Durante a realização do curso, os alunos entrevistaram, no dia 22, a biomédica Daniela Santoro Rosa, mestre e doutora pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), onde atua como professora associada do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia e como chefe da disciplina de Imunologia. 

A Dra. Daniela já há muitos anos estuda vacinas e, no momento, sua linha de pesquisa aborda o desenvolvimento e avaliação de novos candidatos à vacina contra o HIV, Zika e Chikungunya. 

As perguntas realizadas nesta entrevista visam esclarecer dúvidas sobre a vacinação e os surtos decorrentes da diminuição da vacinação no Brasil. Confira em seguida e assista a trechos da entrevista ao final da matéria!

• Qual foi o motivo que a levou a escolher a área  científica? 
Dra. Daniela: O que me estimulou a escolher essa área de ciência foi a descoberta das vacinas. Sempre quis trabalhar com vacinas desde a época da minha iniciação científica. Eu pensava no porquê de não termos vacinas para todas as doenças e isso induziu a uma curiosidade. 
  
• Uma opinião pessoal sobre o movimento antivacina. 
Dra. Daniela: O movimento antivacina teve sua origem, já há algum tempo, nos Estados Unidos, e ele vem crescendo no Brasil nesses últimos dois anos. Eu diria que é um movimento que atrapalha bastante, no sentido de que tem influenciado muito e contribuído para a queda do que a gente chama de cobertura vacinal da população. Esse é um dos fatores que contribuiu muito para esses surtos que a gente está vendo hoje em dia. Ano passado teve surto de febre amarela e, atualmente, há surto de sarampo. Se isso avançar, mais doenças que estavam erradicadas podem surgir no Brasil. 

 • Por volta dos anos 20 durante o período de urbanização do Brasil, houve uma resistência da população que não queria ser vacinada, o que ocasionou muitas mortes na época. Sendo assim, o movimento antivacina poderia extinguir uma população? 
Dra. Daniela: Acho um pouco difícil. Se acontecer, ou seja, se esse movimento chegar a fazer com que grande parte da população não se vacine, ocorrerá o ressurgimento de doenças como poliomielite, febre amarela e sarampo; doenças como essas para as quais temos vacinas. Não digo que isso poderia extinguir uma população inteira, mas faria um estrago. 

•  Qual o grau de risco de contaminação de uma vacina [em relação a micro-organismos ou substâncias], caso exista risco de contaminação? 
Dra. Daniela: O controle da produção da vacina é extremamente rigoroso, então não existe contaminação de um lote vacinal ou qualquer outra coisa. 

 • Qual a maior dificuldade de ser pesquisador no Brasil? 
Dra. Daniela: A falta de investimento, mas por outro lado isso estimula a criatividade do cientista que tem que trabalhar com poucos recursos.

Momentos de debate sobre jornalismo e ciência durante a oficina: 




Foto: Verônica Coelho

Foto: Verônica Coelho



A terceira edição da oficina Introdução ao Jornalismo Científico do Projeto Imunologia nas Escolas aconteceu em julho de 2019, em São Paulo-SP, envolvendo 20 alunos. A maioria dos participantes cursa o ensino médio na Escola Estadual Fernão Dias Paes enquanto alguns são alunos de aprimoramento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) vinculados ao Instituto de Investigação em Imunologia (iii-INCT).
Coordenação do Projeto Imunologia nas Escolas: Verônica Coelho
Coordenação do programa Introdução ao Jornalismo Científico: Patrícia Santos
Realização da oficina: Patricia Santos e Diego Freire
Entrevistadas convidadas: Daniela Santoro Rosa, biomédica e pesquisadora, e Meghie Rodrigues, jornalista

Vacinas: 10 mitos e verdades


Por: Iasmin Landrim, Júlia Dantas, Luana Melo e Maria Eduarda
Alunas da oficina Introdução ao Jornalismo Científico - Projeto Imunologia nas Escolas 2019

Dra. Daniela Santoro Rosa em entrevista para os alunos
do Projeto Imunologia nas Escolas
O que a população sabe e não sabe sobre vacina? Entrevistamos pessoas no ambulatório do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) localizado na cidade de São Paulo, coletamos dúvidas e opiniões dos entrevistados. 

Com base nas respostas, selecionamos as 10 principais questões, e com o auxílio da cientista Daniela Santoro Rosa, temos o objetivo de informar a população sobre os benefícios da vacinação. Conheça os mitos e verdades sobre o assunto:

1. Há riscos de uma pessoa se vacinar e ainda assim adoecer, devido à própria doença?
Resposta = Mito. Apesar das vacinas muitas das vezes possuírem o vírus vivo, ele está atenuado ou seja enfraquecido. A chance de uma pessoa ficar doente por causa da vacina é muito baixa. Após a aplicação de uma vacina, o que pode ocorrer com mais frequência é dor de cabeça, dores nos músculos e febre. Nada disso expõe a vida da pessoa a um grande perigo, pois esses sintomas são leves e passageiros. Entretanto, existem casos raros e mais graves, como reação à vacina da febre amarela que pode acontecer em uma para 400 mil doses da vacina, de acordo com o site da Fiocruz [Fundação Oswaldo Cruz, instituição que desenvolve ciência e tecnologia em saúde]. Sem dúvida é mais provável adquirir a doença pela falta de imunização do que com a vacina. 

2. Vacinas possuem risco de contaminação em relação a micro-organismos ou substâncias?
Resposta = Mito. De acordo com a afirmação da Dra. Daniela Santoro Rosa, as vacinas não possuem um alto risco de contaminação. O processo de fabricação das vacinas é muito rigoroso, pois todo cuidado é pouco durante o processo de fabricação das vacinas. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e o Ministério da Saúde acompanham e monitoram os fabricantes com o intuito de garantir a segurança dos indivíduos ao tomarem as vacinas, em todo o território brasileiro.

3. Vacinas podem causar efeitos colaterais?
Resposta = Verdade. Os efeitos colaterais variam conforme cada vacina, mas os principais são: vermelhidão, inchaço ou dor local da injeção, febre baixa ou leve dor de cabeça, indisposição ou cansaço. Na maioria dos casos, os sintomas não são graves e somem entre 2 a 7 dias. É mais comum se manifestarem em crianças.

4. Vacinas podem provocar o autismo?
Resposta = Mito. A tese de que a vacina da tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) provocaria o autismo começou há duas décadas, mas já foi confirmado que a informação é falsa. Inclusive, o pesquisador principal que lançou essa hipótese teve de se redimir por erros metodológicos na pesquisa e teve sua licença médica cassada. Foi uma notícia muito alarmante e causou pânico em diversas pessoas, porém já podemos ficar tranquilos quanto a esse episódio.

5. O efeito rebanho pode beneficiar a população?
Resposta = Verdade. Com base na entrevista que tivemos com a Dra. Daniela Santoro Rosa, é possível afirmar que o efeito rebanho pode, sim, beneficiar a sociedade. A chamada "imunidade de rebanho" é denominada desta forma por consistir em uma aglomeração de pessoas imunes ao vírus (formando assim um escudo para pessoas que já se vacinaram) na região onde vivem. Essas pessoas podem proteger aquelas que tenham uma deficiência imunológica ou qualquer outra característica que as impeça de se vacinar, para que não sejam infectadas pelo vírus. Entretanto, parte da população pode ser considerada irresponsável por achar que o vírus está erradicado ou de não estar sob o risco de infecção e, portanto, não se vacinar. Todos que têm a possibilidade de se vacinar, e se assim fizerem, estarão protegendo pessoas impossibilitadas de se vacinarem.

6. O movimento antivacina pode ser perigoso?
Resposta = Verdade. O movimento antivacina consiste em uma determinada quantidade de pessoas que optam por não se vacinarem. No Brasil, o movimento antivacina, embora não organizado, vem crescendo nos últimos 2 anos. Esse tipo de situação pode culminar em surtos de doenças que poderiam ser facilmente evitadas caso as pessoas tomassem as vacinas.

7. O movimento antivacina colabora para a sociedade?
Resposta = Mito. O movimento antivacina atrapalha muito com a sua influência, e uma das suas consequências foi a queda do que chamamos cobertura vacinal da população (o percentual de pessoas vacinadas em determinada região). O movimento foi um dos fatores que contribuiu para os surtos que estamos tendo atualmente, por exemplo, de sarampo e febre amarela.

8. Há possibilidade de um vírus ser erradicado se toda a população se vacinar?
Resposta = De um modo geral isso é possível sim. O melhor exemplo que temos foi a erradicação global da varíola. Outro exemplo é a poliomielite, que hoje em dia está restrita à poucos países e estamos perto de erradicá-la. Só que para isso acontecer o vírus tem que deixar de circular.


9. Se alguma pessoa já tomou a vacina obrigatória (na infância) é preciso tomar de novo, caso a doença esteja em surto no momento?
Resposta = Verdade. Se a doença está em surto na sua cidade ou região, o correto é que você vá até um posto de saúde e verifique se é necessária uma dose extra da vacina mesmo que já tenha sido imunizado contra essa doença quando criança. Muitas vezes, inclusive, as vacinas são aplicadas em mais de uma dose. É sempre uma boa ideia se informar com algum profissional da área da saúde caso surja alguma dúvida e manter a carteirinha sempre em dia.

10. Ao saber de alguma campanha de vacinação, devo me informar com um médico se realmente eu preciso tomar?
Resposta = Não obrigatoriamente. É importante nós sabermos o nosso estado de saúde e fazermos acompanhamentos e exames de rotina, somente é necessário a avaliação (veredito) de um médico, no caso de pacientes especiais tais como: transplantados, pessoas com imunodeficiências, doenças autoimunes, pessoas que fazem tratamento de quimioterapia ou radioterapia, entre outras. Nos demais casos, há a opção de se orientar com agentes de saúde ou enfermeiros(as). 
Obs: essa questão tem como objetivo repassar que não seria necessário passar no médico (abrir uma ficha) somente para fazer essa pergunta. Não defendendo a ideia de que não é permitido a informação do profissional.
Entrevista faz parte das atividades da oficina Introdução ao Jornalismo Científico
do Projeto Imunologia nas Escolas. Foto: Patricia Santos


A terceira edição da oficina Introdução ao Jornalismo Científico do Projeto Imunologia nas Escolas aconteceu em julho de 2019, em São Paulo-SP, envolvendo 20 alunos. A maioria dos participantes cursa o ensino médio na Escola Estadual Fernão Dias Paes enquanto alguns são alunos de aprimoramento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) vinculados ao Instituto de Investigação em Imunologia (iii-INCT).
Coordenação do Projeto Imunologia nas Escolas: Verônica Coelho
Coordenação do programa Introdução ao Jornalismo Científico: Patrícia Santos
Realização da oficina: Patricia Santos e Diego Freire
Entrevistadas convidadas: Daniela Santoro Rosa, biomédica e pesquisadora, e Meghie Rodrigues, jornalista